segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Apresentação


O objetivo deste Blog é socializar experiências pedagógicas desenvolvidas em diversos espaços educativos tendo como tema a Revolta de Búzios.
Também conhecida como Revolta dos Alfaiates ou Conjuração Baiana, o tema ganhou destaque especial a partir da publicação da Lei 10.639/2007 que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira no currículo da rede de ensino brasileira.

Conteúdos Digitais sobre a Revolta de Búzios

O curso Conteúdos Digitais e Práticas Pedagógicas teve como objetivo a formação continuada dos professores de tecnologia e multiplicadores do NTE 17 da rede municipal de Salvador. Em parceria com o grupo de pesquisa Comunidades Virtuais (UNEB) foi desenvolvido um curso de extensão com c.h 40 horas abordadando diversas temáticas como: Contexto histórico das mídias digitais, Cultura da Convergência, Interatividade e Participação, Geração C, Mídias digitais (Blogs, Orkut, Facebook, Youtube, Twiteer, Jogos Eletrônicos), Produção de conteúdos interativos.
Enquanto trabalho de conclusão do curso foi proposto a elaboração de conteúdos digitais a partir da temática Revolta de Búzios ou Revolta dos Alfaiates. Veja aqui algumas produções do curso:


Equipe - Lícia, Francisco e Rosângela - Blog

Equipe - Claudia, Elane, Barbara, Luzimar - Blog

Equipe - Cristiano, Jucileide, Miriam - Blog

Equipe - Ana Elisa, Ana Paula, Mª Helena - Blog

Equipe - Ana Inês, Edna, Iza, Irani - Blogquest

Equipe - Ivone - Blog

Equipe - Ezileide, Fanilma, Jacileide, Virgnia - Blog

Equipe - Deraldo, Adilza, Mª José - Site

Além dessas produções, o grupo Comunidades Virtuais produziu um jogo digital (estilo adventure) com a temática, confira no site. Veja o trailer do jogo.
Se você já interagiu com o jogo, deixe aqui seu depoimento.

Debatendo o tema

Entrevista com o mestre de capoeira e professor da UNEB Dr. Josivaldo Pires de Oliveira (Bel)*:









A Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates ou Revolta de Búzios foi, durante muito tempo, esquecida pela historiografia brasileira. Qual a importância desse movimento para a História do Brasil e da Bahia?
A Revolta dos Búzios, como eu prefiro denominá-la, por conta da identificação étnica que estes búzios representavam, foi uma das mais significativas revoluções sociais da História do Brasil. Lembremos que ela ocorreu ainda no final do século XVIII e tinha reivindicações bastante legítimas do ponto de vista das bandeiras que o movimento social de interesse das populações negras brasileiras e baianas viriam sustentar posteriormente. É uma pena que a historiografia e, por conseguinte, o ensino de História do Brasil e da Bahia não tenha reconhecido mais precisamente esta revolta, assim como outras de mesmo caráter como evento significativo da dinâmica de mudança e maturidade política da sociedade brasileira. Talvez o fato das principais lideranças do movimento, que inclusive tiveram suas vidas ceifadas em nome da liberdade, terem sido homens negros tenha justificado o desinteresse por parte de uma narrativa (suspeita) que influenciou predominantemente o ensino de História. Entretanto, algo tem mudado nas últimas década em termo de pesquisa mas que ainda tem sido muito tímido quando se trata da aprendizagem de nossa história por outros vieses.

Na sua opinião, a ausência dessa temática no ensino de História tem um viés étnico-racial no sentido de consolidar uma única visão sobre o papel do negro na construção da sociedade brasileira?
Com certeza. Mesmo com todo esforço de produção de material didático e paradidático que tem tentado apresentar para o leitor/professor outras experiências do negro na história do Brasil que não apenas a do escravo submisso, do feiticeiro maligno, das danças folclóricas, das superstições animistas, ainda há uma resistência muito grande em admitir que a experiência do negro na história do Brasil também deve ser observada na dimensão da produção literária e tecnológica, da constituição de um pensamento social de interpretação da sociedade e cultura brasileira que deve ser investigado enquanto elemento constituinte da história do país. O viés étnico-racial que valoriza uma história europeizante em detrimento de uma história negro-brasileira deve sofrer mudanças estruturais em sua forma narrativa, implicando a história do negro em todas as dimensões da vida brasileira, a saber: na arte, na culinária, nas lutas sociais, na política, na ciência, etc. Infelizmente essa dimensão ainda é timidamente explorada no ensino de história como o estudo do negro no Brasil. Repito: por mais que já podemos dispor de algum material de melhor qualidade em alguns estabelecimentos escolares, ainda estão muito distantes do mínimo necessário. Na verdade nossa maior dificuldade se encontra na mentalidade do leitor/professor para responder ao desafio de ensinar outras histórias do negro no Brasil.



Resgatar esse movimento nos currículos escolares, especialmente a partir da Lei 10.639, possibilita uma compreensão mais complexa e contextualizada sobre a História do Brasil?
Sim. Nunca tive dúvida disto. Quero repetir uma assertiva do Parecer da Lei 10.639. Não se trata de excluir uma História da Europa que tem lugar no ensino no Brasil desde o século XIX. O que implica a lei é a inclusão e revisão da história das populações negras. A história dos Búzios estar presente em nosso manual didático já há muito tempo. A questão é como esta história é narrada e qual o espaço reservado para ela no manual de instrução de história do nosso país. Esta lesão em nosso direito de conhecer nossa história deve ser questionada e uma narrativa mais elaborada e responsável deve ocupar espaços mais significativos em nossos manuais. Neste sentido, a i 10.639 tem um papel importante a cumprir.



Você considera que a Lei 10. 639 contribui efetivamente para a construção de uma educação voltada para o respeito às diversidades étnico-raciais ou se restringe a mudanças curriculares (inclusão de alguns temas/conteúdos)?


As mudanças curriculares são simplesmente secundárias frente ao real objeto da Lei. Obviamente nenhuma mudança deste porte seria realizada de forma tranqüila. Isto não seria diferente com a implementação da Lei 10.639. O objetivo principal é justamente o respeito às diversidades étnico-raciais tendo a educação como instrumento, não simplesmente na adoção de parâmetros e conteúdos. Entretanto, as mazelas reproduzidas na educação escolar foram constituídas ao longo da história de exploração e estereotipação da imagem do negro na sociedade brasileira, constituindo assim uma mentalidade preconceituosa e racista que não será fácil reelaborar no sentido do que podemos definir como árduo processo de reeducação cultural e política da sociedade brasileira. As dificuldades que ainda encontramos é a prova de que não seria fácil, mas alguns avanços já foram dados tanto do ponto de vista institucional com a criação de cursos de pós-graduação lato senso e stricto senso, quanto com as ações individuais de professores, ativistas sociais, artistas, e de simples cidadãs e cidadãos que não admitem mais qualquer história contada a seus filhos. A águia foi despertada e nós somos esta águia, a história das populações negras reclamam um outro lugar no ensino de história e as vidas ceifadas em nome da liberdade na Revolta dos Búzios aguardam por nossa resposta, o que não se dar apenas pela mudança curricular e inclusão d conteúdos, mas também pala ação de cada um de nós. A Revolta dos Búzios merece este respeito.



*Josivaldo de Oliveira é mestre de capoeira do Malungo Centro de Capoeira Angola. Professor de História da África e Teoria da História (UNEB, campus VI). Doutor em Estudos Étnicos-africanos (UFBA), mestre em História Social (UFBA) , licenciado em História (UEFS). Autor do livro Capoeira, identidade e gênero: ensaios sobre a história social da capoeira no Brasil (Edufba, 2010).

Produzindo sentidos